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Bancos continuam a aumentar a margem financeira no crédito a particulares A análise das tendências recentes nas taxas de juros dos depósitos a prazo e dos empréstimos oferece uma visão interessante sobre a dinâmica financeira dos bancos. Os dados indicam que as taxas de juro médias dos novos depósitos a prazo para particulares têm vindo a diminuir, antecipando a evebtual descida das taxas de juro de referência por parte do BCE, mas o mesmo não está a contecer com as taxas de juro ativas dos empréstimos (ex-crédito à habitação). Em março, a taxa média de juros para novos depósitos a prazo caiu para 2,78%, seguindo uma tendência de redução das taxas nos meses anteriores. As taxas de juros passivas mais baixas nos depósitos são uma vantagem para os bancos do ponto de vista da redução de custos de captação de recursos, pois ao remunerarem menos pelos depósitos, os bancos melhoraram a sua margem financeira. Taxa de juro dos novos depósitos a prazo de particulares | Países da área do eur...

Tomada de Decisões Estratégicas: O Papel Crucial do Financeiro na Gestão Empresarial - Parte 1

 

A tomada de decisões estratégicas é um elemento fundamental para o sucesso de qualquer empresa, pois é daí que decorre o poder de impulsionar o crescimento, melhorar a rentabilidade e assegurar a sustentabilidade a longo prazo. 

Neste artigo, discutirei o papel crucial do financeiro na tomada de decisões estratégicas e apresentarei algumas orientações para auxiliar nesse processo.

As Finanças definem-se como a ciência que gere os fluxos financeiros em qualquer das entidades atrás referidas. Deste modo, as Finanças Empresariais é a ciência que gere todos os fluxos financeiros dentro de uma empresa.

Mais … gere os recursos financeiros, no tempo e em contexto de incerteza, através da tomada de decisões financeiras, numa perspetiva de criação de valor (de mercado) baseada na avaliação financeira.

Deste modo, as decisões financeiras, enquanto decisões com impacto nos fluxos financeiros da empresa tomadas em contextos de incerteza, podem ser divididas em 3 grandes grupos:

Estas decisões estratégicas podem-se sintetizar sobre o balanço da empresa, isto é, na relação entre a origem (capital e dívida) e aplicação de recursos (ativo) no esquema seguinte:

  • Decisão de Investimento:

As empresas têm recursos escassos que devem ser alocados às suas necessidades concorrentes. A primeira e mais importante função da teoria financeira passa por fornecer uma ‘regra’ que permita  às empresas tomarem essa decisão com eficiência.

Ao tomar uma decisão de investimento é necessário considerar vários aspectos, incluindo o retorno esperado, o risco associado, o tempo de recuperação do investimento e a compatibilidade com a estratégia geral da empresa. Aqui ficam alguns elementos-chave relacionados à decisão de investimento:

    • Análise de viabilidade financeira
Antes de realizar um investimento, é essencial realizar uma análise de viabilidade financeira para avaliar a atratividade do projeto, o que envolve estimar os fluxos de caixa futuros (free cash flow como diferença entre os cash-flows de exploração e de investimento), o cálculo de indicadores financeiros, como o VAL (Valor Atual Líquido e a taxa interna de retorno (TIR), e a comparação dos resultados com as metas e critérios estabelecidos.

    • Risco e retorno
A decisão de investimento está intrinsecamente ligada ao equilíbrio entre o risco e o retorno. Projetos com maior retorno geralmente estão associados a um maior risco (e vice-versa). Por isso, é necessário avaliar cuidadosamente os riscos potenciais e determinar se o retorno esperado justifica o risco assumido. Este procedimento pode incluir a análise da incerteza do mercado, mudanças regulatórias, riscos operacionais e outros fatores que possam impactar o sucesso do investimento.

    • Custo de capital:

O custo de capital da empresa também é um fator muito importante a ser considerado na decisão de investimento. O custo de capital representa o custo médio ponderado dos diferentes tipos de financiamento utilizados pela empresa (aka WACC). Assim, projetos de investimento devem ter um retorno que supere o custo de capital para agregar valor à empresa.

Ou seja, em investimentos convencionais, a aceitação do projeto de investimento passa por se obter um VAL positivo, o que implica que a TIR é superior ao WACC, o pay-back period é inferior à vida útil do projeto e que o índice de rentabilidade é superior a 1. [Nota: estes conceitos serão revisitados noutro artigo]

    • Análise de sensibilidade e cenários

A incerteza (risco) é uma componente inevitável )indissociável) dos negócios, e a análise de sensibilidade e a criação de cenários podem ajudar a compreender melhor os possíveis resultados e riscos associados ao investimento. Este procedimento envolve a avaliação de diferentes cenários económicos, mudanças nas condições de mercado e outras variáveis relevantes para determinar a resiliência do investimento em diferentes situações.

    • Alinhamento estratégico

A decisão de investimento deve estar alinhada com a estratégia geral da empresa, o que significa que o investimento deve estar de acordo com os objetivos de longo prazo, a missão, a visão e os valores da empresa. O investimento deve contribuir para o crescimento sustentável e a criação de valor a longo prazo.

Importa notar que a gestão de tesouraria também passa pela decisão estratégica de investimento. Como vimos em artigos anteriores, gerir o ativo circulante da empresa, como os inventários, as contas a receber e o caixa, e os passivos circulantes, como o crédito comercial e as contas a pagar (working capital) implica decidir sobre como melhor investir.

  • Decisão de Financiamento:

De uma forma geral todas as empresas, não importa quão grande e complexa, financiam os seus ativos com um mix de dívida e capitais próprios. A decisão de financiamento pretende, numa primeira instância, definir a estrutura de capitais óptima, avaliando o trade-off entre os benefícios e os custos da dívida e do equity.

Quando o mix óptimo de financiamento é diferente do mix existente há que mapear as melhores formas de alcançar esse cenário ideal, tendo sempre em mente as oportunidades de investimento (e a necessidade de respostas atempadas), mas também a ameaça de falência e/ou ser alvo de aquisição.

Definido/atingido a estrutura de capitais óptima, a atenção volta-se para a escolha dos melhores instrumentos de financiamento: Longo ou curto prazo? Reembolsos fixos ou variáveis e, se variável, função de quê? 

Utilizando a proposição básica de que uma empresa minimizará o seu risco de financiamento e maximizará o potencial da dívida se igualar os cash-flows da dívida aos cash-flows libertos pelos ativos financiados, então será possível escolher o melhor instrumento de financiamento.

Ao tomar uma decisão de financiamento, diversos fatores devem ser considerados, :

    • Fontes de financiamento
As fontes de financiamento podem incluir recursos próprios da empresa (autofinanciamento), empréstimos bancários, emissão de ações, emissão de títulos de dívida, parcerias estratégicas ou investidores externos (capital de risco). Cada fonte de financiamento tem características e requisitos diferentes, e a escolha dependerá das necessidades e da situação financeira da empresa.

    • Custo do capital

O custo do capital é um fator determinante na decisão de financiamento. Cada fonte de financiamento tem um custo associado, como taxas de juros para empréstimos ou custos de emissão para ações ou títulos de dívida. É importante avaliar o custo efetivo de cada fonte de financiamento (all-in cost) e considerar a sua viabilidade em relação ao retorno esperado dos projetos de investimento.

    • Risco e perfil de endividamento

A decisão de financiamento também envolve avaliar o risco associado ao endividamento da empresa. O uso de dívida aumenta a alavancagem financeira e pode resultar em obrigações de pagamento de juros e reembolso de capital. Deste modo, é necessário analisar a capacidade de pagamento da empresa, a sua saúde financeira e a sua capacidade de gerir com os riscos de incumprimento.

    • Flexibilidade financeira

É importante avaliar a capacidade de adaptação da estrutura de capital às mudanças nas condições económicas e nas necessidades da empresa. Uma estrutura de capital equilibrada e flexível permite ajustar a estratégia de financiamento de acordo com as demandas do mercado e as oportunidades de investimento.

A decisão de financiamento pode também ter impacto direto nos acionistas da empresa. A emissão de novas ações dilui a participação dos acionistas existentes, enquanto o pagamento de dividendos pode afetar a capacidade da empresa de reinvestir no seu crescimento. É necessário considerar os interesses dos acionistas ao tomar decisões de financiamento.

  • Decisão de Remuneração dos Acionistas

A maioria das empresas gostaria de ter oportunidades de investimento ilimitadas, que geram retornos que excedem o custo de capital; contudo, todas as empresas cumprem o seu ciclo de vida e crescem e amadurecem. 

Como consequência, todo negócio que prospera atinge um estágio em que os cash-flows gerados pelos investimentos existentes são maiores do que os fundos necessários para realizar bons investimentos. Nesse ponto, a empresa precisa decidir sobre a forma de devolver o excesso de dinheiro aos proprietários: pagando dividendos ou recomprando aões.

A decisão de distribuição de dividendos avalia o trade-off que determina se o dinheiro deve ser deixado na empresa ou retirado.


[CONTINUA]

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